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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, março 05, 2014

 UCRÂNIA - O OCIDENTE ESTA CUTUCANDO O URSO COM VARA CURTA



 

A arquitetura da balcanização




por Mauro Santayana

O mundo vive horas perigosas. A Rússia enviou tropas para a Península da Crimeia. O governo provisório que está no poder na Ucrânia convoca reservistas, enquanto oficiais e soldados se bandeiam para o lado russo, evidenciando a divisão do país. O G-8 suspende o encontro que estava programado para Sochi, na Rússia. 
 
A Alemanha e os Estados Unidos querem montar um “grupo de contato” para promover “negociações”, mas, em gesto  de aberta provocação, Washington envia o secretário de Estado John Kerry a Kiev, para manifestar o apoio dos EUA aos rebeldes que tomaram o poder na capital ucraniana.
Se houver combate entre as tropas que estão entrando na Crimeia para defender a população de origem russa que vive na região e se esses confrontos degenerarem em prolongada guerra civil, a responsabilidade por esse novo massacre será dos Estados Unidos e da União Europeia.
Seria inadmissível que Putin enviasse um senador para discursar diretamente aos manifestantes do movimento Occupy Wall Street, em Nova York,  como fez John Mcain (foto abaixo) no centro de Kiev...
 
ou que os russos promovessem em Porto Rico a prolongada campanha de desinformação e provocação que o “Ocidente” está desenvolvendo há meses na Ucrânia, empurrando a parte da população que não é de etnia russa para um conflito contra a segunda maior potência militar do planeta e a maior da região.



A Otan sabe muito bem que não poderá intervir militarmente — e atacar Moscou, que conta com milhares de ogivas atômicas, que podem atingir em minutos Berlim, Londres e Paris — para defender os manifestantes que ela jogou o tempo todo contra o governo ucraniano.

Sua intenção é levar o país ao caos, pressionando Yanukovitch a tentar recuperar o poder com apoio de Putin, para depois acusá-lo — junto com o líder russo — de déspota e de genocida, e posar de defensora dos direitos humanos, da liberdade e da “democracia”.  
 
Se conseguir alcançar seu objetivo de desestruturar o país, o “Ocidente” poderá somar os milhares de mortos, de estupros, de refugiados, e os bilhões de dólares de prejuízo da destruição da Ucrânia, a uma longa lista de crimes perpetrados nos últimos 12 anos, no contexto de sua Arquitetura da balcanização.


Inaugurada nos anos 90, essa tática foi testada, primeiro, na eliminação da Iugoslávia e na sangrenta guerra que se seguiu...
 
que acabou dividindo o país de Tito em Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Macedônia, Montenegro, Sérvia...
 
e em enclaves menores  como o Kosovo.
 
O mesmo processo de fragmentar, para dividir e dominar...

 
destroçando o destino de milhares, milhões de idosos, mulheres e crianças...
 
  IMAGENS QUE POSSUEM A 'MARCA REGISTRADA' DO UNIVERSO HITLERISTA
 
foi mais tarde repetido no Iraque e no Afeganistão- jogando etnia contra etnia, cultura contra cultura — no contexto da “Guerra contra o Terror” — montada a partir de mentiras como as “armas de destruição em massa” de Saddam Hussein, que nunca existiram.

O mesmo ocorreu, depois, na Tunísia, Líbia, Egito, Iêmen, Síria, a partir do macabro engodo da “Primavera Árabe” — também insuflada, de fora, em nome da “liberdade” - que, como maior resultado, colocou em poucos meses crianças que antes frequentavam, em condições normais, os bancos escolares, para comer — sob a pena de perecer de fome — a carne de cães putrefatos, recolhida nos escombros.
O objetivo da Arquitetura da balcanização no entorno russo é gerar condições para a derrubada de regimes simpáticos a Moscou na região,promovendo o caos, a destruição, o ódio entre culturas e famílias que convivem há décadas pacificamente para obter a sua divisão em pequenos países, que possam ser mais facilmente cooptados pela Otan, com sua definitiva sujeição ao “Ocidente”.

Sua esperança é a de que, levando Moscou a intervir em antigas repúblicas soviéticas  —para proteger seu status geopolítico e suas minorias étnicas — os russos se envolvam em várias guerras de desgaste, que venham  a enfraquecer a Federação Russa, ameaçando a união social e territorial do país.  
 
Ao se meter na área de influência de Moscou, insuflando protestos em países que já pertenceram à URSS, a Europa e os EUA estão — como antes  já fizeram Hitler e Napoleão - cutucando o Urso com vara curta,  e empurrando, insensatamente, o mundo para a beira do abismo.


A Rússia de hoje, com 177 bilhões de dólares de superávit comercial no último ano, e o segundo maior exportador de energia do mundo — o que lhe permitiria congelar virtualmente a Europa se cortasse o fornecimento de gás nos meses de inverno — não é a mesma nação  acuada que era no início da guerra de 1990, quando os norte-americanos acreditavam, arrogantes, na  fantasia do “Fim da História” e em sua vitória na Guerra Fria.
 
A Federação Russa tem gasto muito para manter e modernizar sua capacidade de defesa e de dissuasão nuclear nos últimos anos. Putin sabe muito bem o que está em jogo na Ucrânia. E já deu mostras de que, se preciso for, irá enfrentar, pela força, o cerco da Europa e dos Estados Unidos.
Ele já provou que está disposto a levar até o fim a decisão que tomou de não se deixar confundir, em nenhuma hipótese, com uma espécie de Gorbachev do Terceiro Milênio.

 Free ilustration by: militanciaviva!

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