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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 16, 2011

Ariano Suassuna palestra sobre cultura brasileira, com Lula na platéia

Na quarta-feira (15/06), a cidade de São Bernardo do Campo recebeu a visita do autor do Auto da Compadecida, Ariano Suassuna, na abertura do projeto Balaio Popular, da prefeitura.

Na plateia, ninguém menos que o presidente Lula e D. Marisa Letícia, ao lado do prefeito Luiz Marinho (PT/SP) e do vice-prefeito Frank Aguiar (PTB/SP).

Suassuna apresentou uma aula-espetáculo, analisando a cultura no Brasil, a partir da experiência na Secretaria de Cultura de Pernambuco. Tudo através de um bate-papo descontraído e bem-humorado, rico em "causos" e pensamento instigante, como se a palestra tivesse saltado das páginas de um seus livros para a vida real.

O romancista arrancou risos com tiradas, como a divisão da humanidade em duas partes: "uma que gosta de mim e a outra é equivocada... ", continuou arrancando risos ao falar de seu ativismo cultural aos 85 anos: "Tenho uma teoria: a gente só morre quando concorda. Eu não estou de acordo".

Outras tiradas foram:

"Já me chamaram de Dom Quixote arcaico por considerarem a minha defesa [da cultura brasileira] ultrapassada. Ele é um sujeito extraordinário, que lutou a favor de tudo o que era certo. Para o meu entendimento, só haveria derrota se ele não lutasse...

... que o brasileiro não tem oportunidade de desfrutar do filé da cultura nacional porque só recebe os ossos [sobre o entretenimento de má qualidade propagado por aí e que é confundido como cultura popular]...

...Hoje estamos melhor... Quando eu era jovem, o povo brasileiro enxergava o Brasil como um país de quarta categoria. Só viam qualidade nos outros povos e defeitos nos nossos...

... o lugar [referindo-se à Suíça, por não sermos tão organizados como eles] deve ser o país mais chato do mundo porque não tem a riqueza do Brasil...

...Eu nunca sai do Brasil. Só saio se o governo me botar para fora. Lá, vou virar gringo. Fico aqui especialmente porque se fala português...

...Por sua natureza, o sucesso é efêmero. Uma mulher de sucesso é Lady Gaga. Daqui dois séculos, ninguém mais saberá que existiu. Já Villa-Lobos terá a sua música viva daqui três, cinco séculos. Isso significa êxito. Não acredito que o escritor verdadeiro procure o sucesso de Lady Gaga, mas o êxito de Euclides da Cunha, Aleijadinho, Villa-Lobos...

... Gosto de ler e gosto mais ainda de reler. "Dom Quixote" já reli umas 30 vezes e cada vez é melhor".

Revelou que teve o sonho de ser palhaço na infância, mas a mãe não deixou. "Depois que o circo passava, eu ficava insuportável, falando tudo o que o palhaço dizia... Como bom sertanejo, sou muito vingativo. Quem leu o livro sabe que o narrador de "O Auto da Compadecida" é um palhaço".

Lula contou que já participou de muitas reuniões na casa de Ariano Suassuna tomando uma cachacinha. Disse que o considera um gênio. "São Bernardo precisa trazer os grandes nomes da cultura brasileira para o município para que os jovens tenham oportunidade de ver e ouvir esses artistas." O ex-presidente analisa a vinda de artistas como algo que agrega valor ao dia-a-dia da população que convive com garoa e chuva constantemente. (Do ABCD Maior e Diário do Grande ABC).
*osamigosdopresidentelula
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