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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 28, 2011

DEM resiste e prolonga a extirpação

DEM admite ter vergonha de se expor como partido de direita
Embalado pela crise que derrubou o ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil) e pela desarticulação do PSDB, maior partido de oposição, o DEM resolveu fazer um novo “reposicionamento de imagem” para melhorar sua aceitação junto ao eleitorado. A medida já abriu internamente a discussão sobre o uso de expressões como “direita”.
Ao passar por uma refundação de fachada em 2007, o partido abandonou a sigla PFL numa péssima jogada de marketing da direção partidária. Nas urnas, os resultados não vieram — os “demos”, com exceção da vitória de Gilberto Kassab para a Prefeitura de São Paulo em 2008, naugrafaram.
Agora, depois de medir os ânimos do eleitorado em pesquisa qualitativa e quantitativa, o DEM vai lançar nova linha de comunicação no segundo semestre. A sondagem será decisiva para se chegar à nova “roupagem” do partido. Não está descartado o resgate do antigo PFL e o abandono da sigla DEM, manchada após o escândalo envolvendo o ex-governador José Roberto Arruda (DF), no episódio conhecido por “mensalão do DEM”.
“A questão do conteúdo a gente já tem avançado. A consistência do que acreditamos já está acertada. Agora, o que falta é a definição da embalagem”, afirmou o líder do partido na Câmara, ACM Neto (BA).
Parte do ideário do DEM — que se diz defensor do liberalismo econômico e da livre iniciativa — foi moldada após pesquisa de 2007, do Instituto GPP. De acordo com o levantamento, a maioria dos brasileiros é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a legalização das drogas e do aborto. A pesquisa ouviu 2 mil entrevistados.
Entre as palavras mais positivas consideradas pelo eleitor, estão “religião”, “trabalho” e “moral”. “Temos de mostrar nossas bandeiras. Se não, fica difícil sair da mesmice”, afirma o presidente do DEM paulistano, Alexandre de Moraes.
Mas, se há consenso sobre o programa do partido, há dúvidas a respeito do formato. Para uma vertente, o rótulo da direita ficou associado ao período da ditadura e a partidos que não gostam de pobres. Portanto, seria uma armadilha usá-lo. Para outra, existe no país um eleitor “órfão”, que é contra o governo e que quer um posicionamento claro de oposição.
“Há um congestionamento de partidos, como se todo mundo jogasse pendurado na esquerda. Virou moda dizer ‘sou de esquerda’. Mas não é isso que o brasileiro pensa”, diz o ex-deputado José Carlos Aleluia.
“O partido tem que ocupar esse espaço que abriga a direita”, agrega o parlamentar — que, no entanto, disse que o DEM deve evitar a adjetivação. “Mas não coloco objeção a companheiros que queiram colocar.”
“Não me incomodo em ser chamado de direita, de modo algum. Não tenho preocupação nenhuma. Pode chamar de direita, conservador, neoliberal. Não ligo. Sou mesmo”, disse o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO).
Já ACM Neto avalia que, no Brasil, não são claras as definições sobre conservadorismo. “Eu, a priori, refuto. Não me considero conservador. Não adoto esse discurso. Essa roupagem não me cabe”, afirmou. “O Democratas é um partido fundamentalmente de centro, com gente mais à esquerda e mais à direita”, ilude-se o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

Com o portal Vermelho e informações do Estadão

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