A Comissão da Verdade já começou
Ontem, escrevemos aqui sobre o quão tola é a tentativa de bloquear ad aeternum o acesso aos documentos – vejam o paradoxo- públicos classificados como “ultrassecretos”. Hoje, a devolução dos arquivos de cópias dos processos da Justiça Militar, que se encontravam no Conselho Mundial das Igrejas comprova que é isso mesmo: os segredos vão aparecer e é bom que apareçam institucionalmente, não truncados e com possibilidades de omissões e. até, de injustiças.
O Estadão diz que nos arquivos há “confirmações de que os arquivos sobre os crimes incluem um relato detalhado sobre cada pessoa no Brasil sequestrada pelos militares, cada um dos torturados, interrogados e mortos pelas forças de segurança”.
A história que o ex-presidente Sarney conta, de que quer preservar “o acervo histórico do Itamaraty, da construção das fronteiras do Brasil e (se) fomos divulgar neste momento, nós vamos abrir feridas com nossos vizinhos”, francamente, não se sustenta.
Não é o Barão do Rio Branco quem querem preservar.
A verdade é pesadona, custa às vezes a ser mostrar, mas sempre vem à tona.
E virá, com a Comissão da Verdade. Ela, por si, não poderá fazer nada contra aqueles crimes. Mas sua missão é apenas essa: colocar-nos frente a frente ao que aconteceu. E permitir que possamos, como um povo adulto e maduro politicamente, decidir o que fazer com este passado.
*tijolaço
Em breve: Documentos da ditadura na internet
O Ministério Público Federal promoveu um ato em São Paulo nesta terça-feira, 14/07, para comemorar a repatriação dos arquivos do projeto "Brasil Nunca Mais", que estavam nos Estados Unidos desde o fim da ditadura militar.
O acervo reúne depoimentos de ex-presos políticos e identifica agentes que praticavam tortura durante a ditadura militar. As informações serão digitalizadas e devem ser usadas pela futura Comissão da Verdade para investigar crimes cometidos durante o regime.
O projeto realizado no início dos anos 80 buscava, ainda durante o período da ditadura militar, obter informações e evidências de violações aos direitos humanos praticadas por agentes do Estado.
A Procuradoria disponibilizará a íntegra dos 707 processos que originaram "Brasil: Nunca Mais". Qualquer pessoa poderá ler, nos depoimentos contidos nos documentos, os detalhes das prisões e torturas sofridas pelos presos.
PROJETO
Pensado por dom Paulo Evaristo Arns, da Igreja Católica, e pelo reverendo Jaime Wright, da Igreja Presbiteriana Unida, o "Brasil: Nunca Mais" foi feito de maneira clandestina.
Advogados dos presos pediam vistas dos autos no STM, e, em vez de apenas consultar os papéis, faziam cópias deles, que eram mandadas como malotes para São Paulo.
Após o lançamento do livro, em 1985, as cópias foram doadas à Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Como elas sofreram certa degradação, o MPF digitalizará os microfilmes dos processos, produzidos pelo Conselho Mundial de Igrejas, uma organização ecumênica internacional sediada em Genebra (Suíça), e doados ao Center for Research Libraries, uma instituição acadêmica norte-americana que preserva arquivos de diferentes partes do mundo.
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