Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, julho 23, 2010

Crimes de Guerra quando serão julgados ?!?






Crimes de guerra: escravas sexuais no Iraque e no Afeganistão

Uma menina iraquiana de 12 anos é obrigada a se prostituir nos subsolos de Bagdá, enquanto os guardas privados norte-americanos fazem uma coleta de poucos dólares e fazem fila. As moças são recrutadas no Leste Europeu com a promessa de um trabalho como doméstica em Dubai e depois dali são desviadas e segregadas ao coração do Iraque. As garçonetes dos restaurantes chineses de Kabul, por trás das luzes vermelhas, escondem o segredo que todos conhecem. O artigo é de Angelo Aquaro, do jornal La Repubblica.

Matéria publicada em português no IHU On-line

O último horror das "guerras gêmeas" que Barack Obama herdou de George W. Bush tem o rosto das mulheres exploradas em nome daquele outro ídolo que divide o altar com o dinheiro: o sexo. Mas oito anos depois do início da guerra contra o terror, o balanço dessa batalha é ainda mais magro: zero a zero. As ordens do presidente eram retumbantes como as proclamações da vitória que não chegava.

É severamente proibido que os contratantes ou funcionários do governo se tornem responsáveis pelo tráfico sexual nas zonas de guerra. Qualquer um que se torne responsável pelo tráfico sexual será suspenso do cargo. Quem for surpreendido em tráfico sexual será denunciado às autoridades. Os resultados? "Não há nenhum processo aberto", diz a ex-detetive do Human Rights Watch, Martina Venderberg. "Enfim, não há vontade de fazer com que se respeite a lei".

A vergonha foi descoberta por uma investigação do Center for Public Integrity, publicada neste domingo pelo Washington Post. E os contratantes da ex-Blackwater acabaram sob acusação: o grupo privado já tristemente famoso pelos massacres de civis no Iraque. A empresa goza de uma fama tão ruim que, para voltar a trabalhar hoje, mudou de marca e se chama Xe Service.

Um ex-guarda conta que não quer revelar o nome por medo de represálias: "Eu mesmo vi guardas mais velhos recolherem dinheiro, enquanto moças iraquianas, dentre as quais meninas de 12 e 13 anos, se prostituíam". O guarda diz também que denunciou tudo ao seu superior, mas que "nenhum procedimento foi tomado: me entristece só de falar nisso".

De fato, quem não se entristece é a porta-voz da ex-Blackwater, Stacy De Luke, que, no Washington Post, nega "com força essas acusações anônimas e sem provas: a política da empresa proíbe o tráfico humano". Claro.

O caso das trabalhadores do leste que pensam em voar para Dubai e acabam no Iraque foi descoberto por uma jornalista freelancer. Aqui, a organização era muito mais acurada. Um verdadeiro tráfico organizado por subcontratantes que trabalham para o Exército e para o Exchange Service da Aeronáutica: nome que deveria indicar o escritório que se ocupa de organizar o serviço de restaurantes, mas que evidentemente também se ocupa de outras coisas. Assim que aterrizam, as pobrezinhas são privadas do passaporte. Há também um preço para o resgate: 1.100 dólares. Uma quantia enorme, visto que se prostituem por poucos dólares.

A fábrica do sexo é ainda mais sólida no Afeganistão. Lá, há quatro anos, uma centena de chinesas foram libertadas em uma série de blitzes que, ao invés do Talibã, atingiram os bordéis. Mas o tráfico continuou. Com a "aquisição" de uma mulher por 20 mil dólares, um empresário do ArmorGroup, a empresa que, até pouco tempo atrás, se ocupava da segurança da embaixada norte-americana em Kabul, se orgulhava de poder organizar um tráfico rentável. A investigação que iniciou rapidamente chegou ao altos níveis do FBI. Mas parou por aqui.

Os federais defendem que não tiveram meios suficientes. Nas zonas de guerra, enfileiraram-se cerca de 40 agentes, mas eles já têm muito a fazer ao se ocupar de fraudes e corrupção. Mas os ativistas dos direitos humanos têm uma outra explicação: a verdade é que as autoridades preferem fechar um olho. Diz Christopher H. Smith, deputado e autor de uma lei antitráfico, para a crônica republicana: como é possível tolerar que essa gente possa explorar as mulheres com o dinheiro que nós pagamos? Eis uma outra herança da qual Obama deverá se ocupar.

Tradução: Moisés Sbardelotto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário