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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 15, 2011

Movimento pede impeachment da prefeita de Natal


Ninguém deve esperar muita coisa de um governo apoiado pelo DEMO Agripino Mala.

Sob a alegação de uma administração vazia, indícios de irregularidades em contratos públicos e problemas de infraestrutura, ganhou força nas ruas de Natal um movimento iniciado nas redes sociais, o Fora Micarla, em referência à prefeita da cidade, Micarla de Souza (PV). Após dois protestos nos últimos 15 dias, que juntos somaram cerca de duas mil pessoas, um grupo de aproximadamente 70 estudantes monta acampamento no pátio da Câmara Municipal desde terça-feira 7.


A administração de Micarla registra altos índices de desaprovação, que, em maio, chegaram a 84,5% (91,2% entre os que possuem curso superior), segundo pesquisa do Instituto Consult. Os jovens pedem a abertura de um processo de impeachment contra a prefeita, além de uma audiência pública e abertura de uma nova Comissão de Investigação Especial (CEI) para investigar as suspeitas, uma vez que, na sexta-feira 10, o presidente da Câmara Municipal, Edivan Martins (também do PV, partido aliado do DEM e do PMDB) arquivou uma ação para este fim que corria na Casa e agora afirma não poder iniciar outra ação com o mesmo tema.


“O Legislativo não vinha fiscalizando devidamente o jurídico, por isso, organizamos o movimento para fazer disso um fato político e pressionar os parlamentares. Não estamos pedindo nada demais, apenas que apurem as denúncias”, diz o estudante de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e integrante da Comissão Jurídica dos acampados, Hélio Miguel Martins.


Edivan Martins conseguiu uma ordem judicial para a desocupação do pátio da Câmara com auxílio policial, que foi adiada para uma negociação pacífica. Na segunda-feira 13, os manifestantes e seus representantes jurídicos se reuniram com o presidente da Câmara na sede da Ordem dos Advogados do Brasil de Natal para que as partes fizessem suas demandas.


Além das requisições acima, os estudantes pedem a participação na Comissão de membros da oposição, sem vínculos com os contratos referidos. O presidente da Câmara afirmou não se opor à nova CEI, desde que recolhidas as sete assinaturas de vereadores necessárias para a abertura da investigação. Dosse, porém, que não pode assegurar a composição da mesma. Segundo o advogado do grupo, Daniel Pessoa, a oposição já atingiu essa meta.


Apesar de as negociações continuarem, o advogado afirma que o presidente está pressionando o movimento a se retirar. “Martins passou a chave nos portões e trancou todos os manifestantes dentro do pátio da Câmara, ninguém pode sair. Cortaram água, luz e internet”, conta ele, que vai recorrer ao STJ para manter o acampamento.


Enquanto isso, a prefeita Micarla de Souza, que ainda não recebeu os estudantes, escolheu o Twitter para se manifestar. “Como prefeita, estou sempre à disposição de todos os setores da sociedade natalense para discutir ações positivas para a nossa cidade. Qualquer pauta de interesse coletivo em Natal recebe a minha atenção. Só precisa ser apresentada de forma respeitosa e democrática”, disse.
Para o presidente da OAB local, o destino político de Micarla está condicionado às investigações da comissão. “Tudo vai depender da audiência pública e do resultado da CEI, que é o passo inicial, afinal não se sabe que rumo as investigações podem tomar no final”.


Averiguações que já estão sendo feitas de forma independente pela Comissão Jurídica dos acampados, que pretende entregar os resultados ao Ministério Público. “Tivemos acesso à lista de prédios alugados pela prefeitura e reparamos que há locais na periferia da cidade com valores de mercado de cerca de R$ 400, mas a administração paga dez vezes mais. Além disso, as secretarias ficam em bairros nobres, em prédios luxuosos”, aponta Hélio Miguel Martins.

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