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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, abril 03, 2012

O automóvel e o ar comprimido



Inventado há mais de 10 anos, tal meio de transporte conseguiu obter a homologação só nos últimos tempos. Os inventores, a família francesa Negré, afirma ter sido obstaculizados e desacreditados, além de não ter recebido algum tipo de financiamento.

Agora os Negré apresentam uma inteira gama, com a marca MDI, que vala  pena observar.

AirPOD 

Carro pequeno (2 metros de comprimento), com capacidade para 4 ocupantes.

Com uma potência de miseráveis 5 cavalos, é um automóvel no verdadeiro sentido do termo, não faltando nada. Até possui um computador de bordo, sistema para o controle da estabilidade, recuperação de energia nas travagens, airbags, direcção assistida.

Permite alcançar 70 km/h, tem uma autonomia de 220 km em cidade, carrega-se em 90 segundos, percorre 100 km com 0.50 €.


OneFlowAir

Carro um pouco mais comprido (3,4 metros), para cinco pessoas, 15 cv de potência, alcança 110 km/h, pode ser equipado com um adicional motor de combustão interna, o que eleva a autonomia até 900 km.

Em modalidade "ar comprimido" consegue percorrer 100 km. Em modalidade "dual fuel" isso é, desfrutando também o combustível fóssil) consome 1,7 litros por cada 100 km.

Pormenor interessante: como combustível pode ser utilizada a gasolina, o gasóleo, o etanol, óleos vegetais...
Preço: 5.300 Euros.


MiniFlowAir

O mesmo conceito do modelo anterior, só em miniatura.

Com um comprimento de 2.65 metros, consegue transportar 3 pessoas, debita 50 cv, atinge 130 km/h, consome 1.8 litros de combustível por cada 100 km e tem uma autonomia de 1.500 km (50 em modo "ar").
Preço: 9.200 Euros.


CityFlowAIR

Um carro destinado ao transporte de objectos também pois de facto é uma espécie de pick-up (isso é, com uma ampla zona de carga descoberta na parte posterior do veículo). Em alternativa, pode ser um verdadeiro furgão, como na imagem ao lado.

As especificações são idênticas ao modelo anterior, sendo o CityFlowAIR apenas mais comprido (4.1 metros).
Preço: 13.000 Euros.

Em projecto há também o MultiFlowAIR, um transporte público modular, alimentado unicamente com ar comprimido para assegurar zero emissões poluentes. 

Muito interessante os modelos alimentados por ar comprimido, mas não podemos esquecer os de dupla energia; estes motores de dupla energia têm uma maior autonomia e garantem:
  • Menos de dois litros de combustível por cada 100 km percorridos
  • Zero emissões NOx (óxidos de azoto)
  • Emissões 3 vezes inferiores de C02 em comparação com os motores clássicos.

O dono da empresa, Cyril Guy Négre, ex engenheiro da Williams (Renault), em 2007 assinou um acordo com a casa automobilística indiana Tata, pela construção dum veículo citadino: velocidade máxima 50 km/h, autonomia 200 km. Em Junho de 2009 o AirPOD é adoptado como veículo de serviço no aeroporto de Amsterdam.

Desde já é possível reservar um dos modelos no site da empresa (link no fundo do artigo). Mas atenção: a empresa fadigou não pouco para obter a homologação em França, nos outros Países é claro que as dificuldades iriam repetir-se.

Tudo simples então? Não, pois ainda há alguns problemas técnicos, nomeadamente a formação de gelo.
O principal problema do motores que funcionam com ar comprimido é que a expansão do gás subtrai calor ao ambiente, o ar no motor atinge os 40ºC negativos e a presença de humidade no ar comporta a formação de gelo no mesmo motor.

Négre afirma ter ultrapassado o problema com um sistema  politrópico, mas não peçam o que isso pode significar porque não faço ideia. Todavia gelo no motor foi o que o jornalista do Guardian encontrou durante uma breve prova do carro:
Ao contrário dos convencionais motores de combustão interna, movidos a ar motores, gelo espesso forma-se rapidamente sobre o motor. Isto significa que a única característica que vem de graça no carro será o ar condicionado.
Outra empresa que apresentou um modelo movido com ar comprimido foi nada mais nada menos de que a Honda.

Em 2012 apareceu a Honda Air, protótipo de carro desportivo (imagem ao lado) que prontamente desapareceu da cena.

Até que qualquer referência ao modelo foi apagada no site da Honda: hoje carros menos poluentes significa tecnologia híbrida, gás e etanol. Todos produtos que funcionam ainda com o paleolítico motor de combustão interna.

No máximo fala-se de fuel cell, especificando que em qualquer caso será o futuro, não o presente. 

A verdade é que nenhuma grande empresa parece interessada no desenvolvimento dum motor de ar comprimido. Um empresário privado, Négre, sem financiamentos ou outras ajudas, conseguiu montar uma empresa que produz carros movidos com ar comprimido. Ainda há problemas técnicos, como vimos, mas a minha pergunta é: que aconteceria se uma ou mais grandes empresas, com as imensas capacidades delas, decidissem investir na pesquisa e no desenvolvimento?

Talvez nada, talvez o motor de ar comprimido seja um beco sem saída, destinado a conviver com o problema do gelo. Mas a impressão é que falte a vontade para abandonar os combustíveis fósseis. Isso seria uma revolução, algo que subverteria a sociedade tal como é conhecida. E ninguém quer correr este risco, para não perder as posições de poder. 

Por isso, lamento, mas não será possível livrar-nos do petróleo e derivados, pelo menos no futuro próximo. 


Ipse dixit. 
*InformaçãoIncorreta

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