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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 02, 2011

Saem normas para produzir tablets com incentivos

Manufatura : Governo planeja estender benefício a outros itens
Daniel Wainstein/Valor
“Só 20 países produzem semicondutores; temos de entrar nesse clube”, disse ontem o ministro da Ciência e Tecnologia Aloysio Mercadante, ao anunciar as regras

Sergio Leo | VALOR

O governo vai aumentar a exigência de conteúdo nacional para produção, com incentivos no país, de telefones celulares, computadores e televisores, informou o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloysio Mercadante, ao comentar a publicação, ontem, no “Diário Oficial”, das normas do Processo Produtivo Básico para produção de tablets no país. “Queremos expandir para telefones, televisores, laptops, notebooks porque é isso que vai criar escala para trazer ao Brasil a indústria de componentes”, argumentou o ministro.
“Somos um país que é terceiro do mundo em computadores e em expansão em outros produtos; não podemos continuar assistindo passivamente um déficit de US$ 18,9 bilhões na área de tecnologia de informação e comunicação”, disse. O ministro informou que, como no caso do PPB dos tablets, que começam em breve a ser montados no país pelo fabricante de iPads da Apple, haverá consultas públicas aos setores interessados. “Como no caso dos tablets, em que tivemos de construir todo um entendimento sobre o ritmo de nacionalização, também estamos trabalhando, vão sair medidas”, adiantou.
Mercadante reuniu os funcionários do Ministério da Ciência e Tecnologia para explicar o modelo de gestão que pretende adotar, com cobrança de resultados e divulgação das atividades e processos da pasta. Ele reconheceu que o número de funcionários é insuficiente para processar os pedidos do setor privado, e informou que negocia no governo a ampliação. “A Secretaria de Política de Informática tem R$ 3 bilhões em incentivos e só 13 funcionários, imaginem a sobrecarga”, afirmou.
O ministro anunciou que decidiu rever todo o sistema de convênios do Ministério no setor de “inclusão social” para concentrar os contratos “só nos entes públicos”, como prefeituras e universidades. “Não temos estrutura para acompanhar se as tarefas estão sendo feitas como esperado”, reconheceu.
Mercadante anunciou que espera aproveitar o programa de inclusão digital como “trunfo” para atrair a produção de empresas estrangeiras de tecnologia. O grande percentual de componentes importados nos produtos mais sofisticados, como computadores, reduz a qualidade do superávit no comércio exterior brasileiro e cria problemas para o país, disse. “Estamos mandando para fora do país parte dos empregos qualificados, salários e inovação que seriam gerados aqui.”
O ceticismo no setor privado sobre a possibilidade de trazer a produção de tablets ao Brasil, segundo o ministro, partiu de empresas produtoras de notebooks “que queriam apenas depreciar o investimento que já fizeram nesses aparelhos”. O Brasil produz 61 milhões de celulares e vende 12 milhões de televisores e é o terceiro maior vendedor de computadores no mundo, mas com valor agregado no país muito baixo, reclamou o ministro. “Só 20 países produzem semicondutores; temos de entrar nesse clube.”
Para Mercadante, o início de produção do petróleo encontrado nas camadas pré-sal da costa brasileira pode ser “uma maldição”, viciando o país em exportações de um produto não-renovável de baixo valor agregado, como na Venezuela. Para evitar a “doença holandesa”, o governo atuará intensamente no Congresso, tentando mudar as propostas de distribuição de royalties do petróleo.
A proposta em discussão afetará os percentuais hoje destinados a pesquisa e desenvolvimento, e retirará R$ 12,2 bilhões de recursos do setor de ciência e tecnologia, avisou o ministro. “Se mantida a posição no Congresso, os royalties vão ser pulverizados por Estados e municípios”, criticou.
“Essa é a batalha das batalhas; a grande fonte de renda do futuro Estado brasileiro são royalties”, disse. “Esse dinheiro tem de ir prioritariamente para formação do futuro: ciência, educação e tecnologia, formação de uma geração mais preparada e culta.” O ministro pediu que seus auxiliares defendam uma “mudança de valores. “Meu sonho é que o jovem, em vez sonhar em ser pagodeiro ou jogador (não tenho nada contra), e a menina, em ser dançarina ou modelo, se vejam também como cientistas.”
* Luis Favre

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