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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, novembro 02, 2013

SECA: MUDOU, E MUDOU MUITO 

 


JOSIAS GOMES
BR247

Novidade é que o problema, que atravessa séculos, ocorre agora sem as consequências econômicas e sociais que sempre caracterizaram o fenômeno durante todo o tempo
Há um fenômeno físico-econômico-social que mais uma vez se repete no Nordeste: a seca. Atravessando os séculos, mais uma vez ela vem acontecendo de forma violenta, já caracterizada como uma das mais severas das últimas décadas.
A novidade é que, no caso presente, ela ocorre sem as consequências econômicas e sociais que sempre caracterizaram o fenômeno durante todo o tempo. Agora, a economia da região não se mostra arrasada como sempre ocorria.
Há um aspecto novo bem evidente no quadro atual e que deveria chamar a atenção de todos os que se preocupam verdadeiramente com a vida brasileira, e, principalmente, com a realidade nordestina: a ausência das hordas de esquálidos na região.
Eram essas hordas de esfomeados que, durantes as secas, costumavam invadir as cidades em busca de comida. Para satisfazer esse tipo de necessidade primaríssima do homem, a turba invadia as cidades e saqueava mercearias, caminhões, mercadinhos da Conab e, eventualmente, supermercados.
Os saques no Nordeste têm registro antigo, remontando mesmo ao Século XVI, sendo motivo de inúmeras teses científicas e acadêmicas assinadas por brasileiros, mas, também, e em bom número, por cientistas estrangeiros. Há registros até de antropofagia.
Na época da ditadura, de forma ridícula, mas bastante sintomática para as convicções ditatoriais, o então ministro Mário Andreazza, em uma das secas da década de 70, foi a público qualificar os saques como fruto da ação de comunistas infiltrados no seio do povo. O decantado "milagre brasileiro", de então, era mesmo uma falácia.
Pois bem. Apesar de a atual ser considerada a mais dura seca dos últimos 50 anos, não há os saques verificados durante séculos, nem a morte de milhões de nordestinos com fome e sede, expostos pelas estradas da região, conforme se via desde muito antes da existência do marxismo.
Não é pouca coisa. É um acontecimento histórico da mais elevada significação, mas que, ou por ignorância ou por cinismo ou por desamor à verdade ou por desprezo elitista ou simples despeito não alcançou status de notícia merecedora de destaque na sempre atenta mídia nacional.
Sim, amigos leitores. A seca continua tão severa quanto há séculos. Mas não há mais as hordas de famintos. E a economia nordestina não restou destruída conforme os registros históricos mais remotos.
Em primeiro lugar, porque, nos últimos 10 anos, o governo federal, de Lula a Dilma, vem investindo forte em programas de transferência de renda como nunca se fez nos 500 anos de história do País.
A despeito da resistência oferecida por aqueles que não escondem seu horror diante do processo de ascensão social, foram esses programas de transferência de renda, capitaneados pelo Bolsa Família, que deram dignidade às populações mais pobres do País, entre as quais se encontram os nordestinos do semiárido.
É preciso destacar também os projetos governamentais visando a segurança hídrica do semiárido. Falo desde as ações estruturantes, como barragens, canais, estações elevatórias, sistemas de abastecimento d'água que beneficiam municípios e estados, até ações emergenciais, ampliando o acesso à água, ofertando alimentos para os rebanhos e crédito emergencial, renegociando dívidas dos agricultores, simplificando e acelerando o repasse de recursos federais para os estados e para os municípios.
Iniciado no governo Lula, o Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, apesar das inevitáveis dificuldades, está sendo acelerado, rumo à conclusão de uma das mais importantes obras de engenharia hidráulica em curso no mundo, favorecendo em elevado grau a solução do problema de água em vasta área do semiárido brasileiro.
Pois é. Há uma nova realidade no Brasil: há seca, mas não temos esquálidos invadindo cidades e mercados em busca de comida. Nem os milhões de mortos verificados pela história afora, em virtude desse fenômeno climático.
O Brasil caminha, portanto, inexoravelmente, para uma grandiosa realidade absolutamente nova, e sonhada há 500 anos: a solução definitiva para o mais esperado e previsível fenômeno natural do Brasil, que é a seca.
Essa é a nova realidade, queiram ou não os incorrigíveis e vesgos críticos das ações governamentais empreendidas no Brasil desde 2003. Ainda bem que o Brasil real não depende desses senhores para reconhecer os benefícios das mudanças em curso. Apenas o povo é suficiente.
*amoralnato

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