SECA: MUDOU, E MUDOU MUITO
JOSIAS GOMES
BR247
Novidade é que o problema, que atravessa séculos, ocorre agora sem as
consequências econômicas e sociais que sempre caracterizaram o fenômeno
durante todo o tempo
Há um fenômeno físico-econômico-social que mais uma vez se repete no
Nordeste: a seca. Atravessando os séculos, mais uma vez ela vem
acontecendo de forma violenta, já caracterizada como uma das mais
severas das últimas décadas.
A novidade é que, no caso presente, ela ocorre sem as consequências
econômicas e sociais que sempre caracterizaram o fenômeno durante todo o
tempo. Agora, a economia da região não se mostra arrasada como sempre
ocorria.
Há um aspecto novo bem evidente no quadro atual e que deveria chamar a
atenção de todos os que se preocupam verdadeiramente com a vida
brasileira, e, principalmente, com a realidade nordestina: a ausência
das hordas de esquálidos na região.
Eram essas hordas de esfomeados que, durantes as secas, costumavam
invadir as cidades em busca de comida. Para satisfazer esse tipo de
necessidade primaríssima do homem, a turba invadia as cidades e saqueava
mercearias, caminhões, mercadinhos da Conab e, eventualmente,
supermercados.
Os saques no Nordeste têm registro antigo, remontando mesmo ao Século
XVI, sendo motivo de inúmeras teses científicas e acadêmicas assinadas
por brasileiros, mas, também, e em bom número, por cientistas
estrangeiros. Há registros até de antropofagia.
Na época da ditadura, de forma ridícula, mas bastante sintomática para
as convicções ditatoriais, o então ministro Mário Andreazza, em uma das
secas da década de 70, foi a público qualificar os saques como fruto da
ação de comunistas infiltrados no seio do povo. O decantado "milagre
brasileiro", de então, era mesmo uma falácia.
Pois bem. Apesar de a atual ser considerada a mais dura seca dos últimos
50 anos, não há os saques verificados durante séculos, nem a morte de
milhões de nordestinos com fome e sede, expostos pelas estradas da
região, conforme se via desde muito antes da existência do marxismo.
Não é pouca coisa. É um acontecimento histórico da mais elevada
significação, mas que, ou por ignorância ou por cinismo ou por desamor à
verdade ou por desprezo elitista ou simples despeito não alcançou
status de notícia merecedora de destaque na sempre atenta mídia
nacional.
Sim, amigos leitores. A seca continua tão severa quanto há séculos. Mas
não há mais as hordas de famintos. E a economia nordestina não restou
destruída conforme os registros históricos mais remotos.
Em primeiro lugar, porque, nos últimos 10 anos, o governo federal, de
Lula a Dilma, vem investindo forte em programas de transferência de
renda como nunca se fez nos 500 anos de história do País.
A despeito da resistência oferecida por aqueles que não escondem seu
horror diante do processo de ascensão social, foram esses programas de
transferência de renda, capitaneados pelo Bolsa Família, que deram
dignidade às populações mais pobres do País, entre as quais se encontram
os nordestinos do semiárido.
É preciso destacar também os projetos governamentais visando a segurança
hídrica do semiárido. Falo desde as ações estruturantes, como
barragens, canais, estações elevatórias, sistemas de abastecimento
d'água que beneficiam municípios e estados, até ações emergenciais,
ampliando o acesso à água, ofertando alimentos para os rebanhos e
crédito emergencial, renegociando dívidas dos agricultores,
simplificando e acelerando o repasse de recursos federais para os
estados e para os municípios.
Iniciado no governo Lula, o Projeto de Integração do Rio São Francisco
com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, apesar das
inevitáveis dificuldades, está sendo acelerado, rumo à conclusão de uma
das mais importantes obras de engenharia hidráulica em curso no mundo,
favorecendo em elevado grau a solução do problema de água em vasta área
do semiárido brasileiro.
Pois é. Há uma nova realidade no Brasil: há seca, mas não temos
esquálidos invadindo cidades e mercados em busca de comida. Nem os
milhões de mortos verificados pela história afora, em virtude desse
fenômeno climático.
O Brasil caminha, portanto, inexoravelmente, para uma grandiosa
realidade absolutamente nova, e sonhada há 500 anos: a solução
definitiva para o mais esperado e previsível fenômeno natural do Brasil,
que é a seca.
Essa é a nova realidade, queiram ou não os incorrigíveis e vesgos
críticos das ações governamentais empreendidas no Brasil desde 2003.
Ainda bem que o Brasil real não depende desses senhores para reconhecer
os benefícios das mudanças em curso. Apenas o povo é suficiente.
*amoralnato
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