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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, março 12, 2013




José Dirceu foi condenado e aguarda prisão, mas Cachoeira tenta retomar negócios.

Cachoeira tenta retomar negócios 1 ano após prisão


Contraventor está aos poucos restabelecendo velhas conexões políticas e empresariais

Alana Rizzo - ENVIADO ESPECIAL - O Estado de S.PauloGOIÂNIA - Depois de ficar preso por 266 dias no ano passado sob acusação de comandar uma rede de tráfico de influência envolvida com negócios públicos e jogos ilegais, Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, está aos poucos restabelecendo velhas conexões políticas e empresariais.

Wilson Pedrosa/AE
Cárcere. Contraventor passou 266 dias na prisão em 2012Argumentando que as provas da Operação Monte Carlo serão anuladas, Cachoeira faz reuniões em casa com amigos e empresários, especialmente do setor de coleta de lixo. Entre os convidados, está Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Construções no Centro-Oeste, vizinho do contraventor e também réu na Justiça.
O que Cachoeira ainda não conseguiu foi marcar sua volta à sociedade de Goiânia. Sua mulher, Andressa Mendonça, é requisitada em festas e eventos sociais. "Ele nunca foi das ‘altas rodas’ da capital. É de Anápolis e, por mais que tenha dinheiro, não é de família tradicional", diz um parlamentar que atuou na CPI do Cachoeira na Assembleia de Goiás.
A comissão terminou em pizza na última semana, sem indiciamentos ou relatório final. Segundo deputados da oposição, os aliados do governador Marconi Perillo (PSDB) literalmente se esqueceram de votar o texto.
A exposição pública de Cachoeira - condenado a quase 40 anos de cadeia - tem sido evitada, especialmente após o flagra em um resort de luxo na Bahia, com diárias de R$ 3 mil. Há mais ou menos duas semanas, a defesa ordenou que o contraventor submergisse para não atrapalhar a montagem de um figurino mais discreto para quem ainda responde a ações na Justiça. A personalidade expansiva e articulada do contraventor sempre preocupou os advogados que o defendem.
Sob os cuidados do criminalista Nabor Bulhões, Cachoeira tornou-se evangélico na prisão e estabeleceu uma rotina de cultos semanais em casa. Na nova fase, ele pega os filhos na escola, deixou de frequentar a noite goiana e agora encomenda jantares em casa nos melhores restaurantes da cidade.
"É uma orientação pessoal dele e que casa com a nossa. Ele está muito discreto e focado na família e nos processos. Carlinhos está trabalhando na defesa. Isso tudo absorve bastante tempo", afirma Nabor, negando que ele tenha retomado a vida empresarial.
Delação. Sobre uma eventual colaboração com a Justiça, Nabor responde: "Não aceito assistir cliente que cogite a delação. É uma questão de princípio". Ao deixar a cadeia, Cachoeira prometeu revelar tudo o que sabia e anunciou ser o "verdadeiro garganta profunda do PT". Até agora, nada veio a público.
Mesmo condenado, Cachoeira aguarda em liberdade o trânsito em julgado da sentença. O Ministério Público avalia a possibilidade de novas denúncias por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção. Uma força-tarefa foi montada para analisar o fluxo financeiro da organização criminosa, e os volumosos saques em espécie já despertaram a atenção dos investigadores.
Para a procuradora Léa Oliveira, uma das autoras da denúncia contra Cachoeira, o resultado da operação é positivo. "Só nos ressentimos de que, se não fossem os vazamentos de setores de onde não esperávamos, conseguiríamos ter desenvolvido uma persecução financeira do grupo. Mas levantamos o véu que cobria uma realidade extremamente complexa."
A procuradora não descarta a possibilidade de o grupo criminoso ainda estar atuando. "Conseguimos desarticular temporariamente o grupo, mas não desmantelá-lo completamente.

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