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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, março 04, 2013

Milhares de portugueses protestam contra o governo em Lisboa



Movimento critica medidas de austeridade adotadas sob pressão da troika.
‘Eleições já’ e ‘democracia participativa’, diziam cartazes de manifestantes.

Portugueses saíram às ruas de Lisboa, neste sábado (2), em protesto contra o governo (Foto: AFP PHOTO/ PATRICIA DE MELO MOREIRA)
Milhares de portugueses saíram às ruas neste sábado (2) em trinta cidades para protestar contra as medidas de austeridade, em manifestações convocadas por um movimento apolítico que em setembro passado conseguiu reunir multidões.
“Fora a troika e o governo”, “eleições já”, “democracia participativa”, eram algumas das frases escritas nos cartazes carregados pelos manifestantes.
Em Lisboa, milhares de manifestantes se reuniram a partir das 16h (13h no horário de Brasília) entoando a canção “Grândola Vila Morena”, com as vozes embargadas pela emoção.
Esta canção se tornou o símbolo da contestação em Portugal após ter sido o hino da Revolução dos Cravos em 1974, que permitiu o retorno à democracia.
Há várias semanas, manifestantes a cantam durante a passagem de membros do governo. Um discurso no Parlamento do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho chegou a ser interrompido pelo canto.
Ela deve ser ouvida simultaneamente em 30 cidades onde o movimento apolítico “Que a troika vá para o inferno”, comparável ao movimento dos Indignados na Espanha, convocou os protestos.
Este movimento critica principalmente as medidas de austeridade adotadas pelo governo sob pressão da troika (UE-FMI-BCE), que representa os credores de Portugal, atualmente presente em Lisboa. Muito ativo nas redes comunitárias, o movimento reuniu em 15 de setembro de 2012 milhares de pessoas em todo o país, uma mobilização excepcional desde a Revolução dos Cravos.
Recusando-se a qualquer prognóstico sobre a extensão que as manifestações podem alcançar neste sábado, um dos líderes do movimento, Nuno Ramos de Almeida, considerou “que pouco importa este tipo de previsão”.
“O que importa é que as pessoas querem se opor a esta política”, declarou à AFP. “Este governo não pode governar contra o povo e eu acredito que irá cair”. “Uma grande manifestação é um forte sinal de descontentamento, e eu espero que o governo entenda o recado”, afirmou Luis Costa, do partido de extrema-esquerda.
O movimento anunciou que outros protestos em apoio à causa vão acontecer em cidades estrangeiras como Londres, Boston, Paris, Madri e Barcelona.

Manifestantes portugueses carregam cartazes durante protesto em Lisboa (Foto: AFP PHOTO/ PATRICIA DE MELO MOREIRA)
Estas novas manifestações acontecem em um contexto de tensão social, que aumentou ante as medidas de austeridade adotadas pelo governo de centro-direita em troca do plano de resgate de 78 bilhões de euros concedidos em maio de 2011.
“O governo está nos roubando. Eu estou aposentado, mas isso não impede que me tirem muito dinheiro”, declarou José Mendes, de 65 anos.
Das manifestações participam o principal sindicato, CGTP, mas também professores, trabalhadores da área da saúde e aposentados. Até os militares se juntaram à marcha em Lisboa, que terminou na monumental Praça do Comércio.
Após ter procedido no ano passado com a redução dos salários e das aposentadorias, o governo decretou este ano um aumento generalizado dos impostos e prevê cortes adicionais de 4 bilhões de euros por meio de uma “reforma do Estado”. Muito criticada pela oposição, esta reforma deve ser apresentada à troika.
Após uma análise das finanças e desta reforma, seus credores podem concordar com uma nova redução das metas fiscais do governo, cada vez mais difíceis de serem alcançadas, de modo que a economia deve encolher este ano em 2%, duas vezes mais do que o previsto, e o desemprego deve atingir um nível recorde de 16,9%.
Fonte: http://noticias.br.msn.com
*Anarquista.net

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