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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, setembro 16, 2013

A Justiça no picadeiro



 

Se ainda restava alguma dúvida sobre o caráter ideológico da condenação dos réus na Ação Penal 470, os ministros Luiz Fux, Gilmar Mendes e Marco Aurélio de Mello acabam de escancará-lo para quem quiser enxergar.

Em que outra ocasião na história do Supremo Tribunal Federal juízes paramentados proferiram ladainhas desnecessariamente longas e vazias, com o intuito de forçar o adiamento de um voto decisivo? Quantas vezes, em qualquer democracia constitucional do planeta, um decano da máxima corte foi impedido de votar quando quis e pôde, amargando cinco longos dias de pressões e constrangimentos, por causa de suas posições doutrinárias? E quantas vezes isso tudo ocorreu para forçar condenações irrecorríveis e tecnicamente falhas?

Pouco importa que aplaudam essa farsa, que a chamem de “justiça” ou de seu verdadeiro nome. Já não restam ilusões de que o veredito final será remotamente “justo”. O caminho da condenação inapelável foi bem pavimentado na primeira fase, quando Joaquim Barbosa dificultou ao máximo o trabalho das defesas. Nenhum réu conseguiria escapar nessas circunstâncias.

Apesar de tudo, porém, é óbvio que os embargos infringentes forneceriam um mínimo de equilíbrio à pândega. A protelação do julgamento e o exercício do direito ao recurso teriam, por si sós, um efeito pedagógico sobre as platéias desinformadas. Aliás, quanto mais contrariados ficarem Barbosa e seus asseclas, melhor para a democracia brasileira.
*guilhermescalzilli

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